Série Mulheres Artistas| Jess Marcondes
Nossa região é solo fértil para arte e para mulheres artistas incríveis. Por isso, essa semana a #SérieMulheresArtistas continua e traz um bate-papo emponderador com a idealizadora do site Afrocentrado, Jéssica Marcondes.
Mulher, negra, feminista e artista, Jéssica não deixa dúvidas de sua força por onde passa. Dona de si desde pequena, antes mesmo de ter ideia do que a sociedade prega às mulheres, principalmente, as negras, ela já mandava o recado por onde passava: “Eu quero! Eu serei!”.
“Diferente da minha mãe e até mesmo irmãos, eu não tive, nem tenho, medo de ir atrás do que acredito. Sempre achei bonita a palavra audácia e quando preciso me definir, esse é o adjetivo.” E Jess, realmente carrega todos os significados desse adjetivo consigo. Ela é ousada e se opõe ao já estabelecido e, muitas vezes, aceito pela sociedade.
Conversamos e muito com ela, e esperamos que gostem desse bate-papo cheio de grandes aprendizados!
– Conta um pouco sobre você, qual a marca a Jess quer deixar no mundo?
Sou fruto de 1995. Filha do carnaval, mas sou zero bagunça!
Sou caçula de mais 3 irmãos (mainha teve 4 filhos). Sou da rebarba de um século com o início de outro recente, que é o XXI. Minha infância foi total diferente comparada a infância dos meus irmãos e irmã, isso já fez nosso conflito entre gerações acentuar dentro de casa. Novinha já afirmava: “Eu quero! Eu serei!”. Todo mundo ria. Eu era gordinha, um par de bochechas e palavras de poder sem nem saber pronunciar certas coisas.
Desde nova olhei pra Moda, mas ela sempre foi branca e magra. Eu sempre fui o inverso disso, não por opção, porque se eu a tivesse, seria diferente, pelo menos naquela época. Com 15 anos comecei a trabalhar e tirava do meu salário cursos de croquis, Técnico em Informática, Desenho de Moda e História da Moda. De 2000 e quem pra cá, a cena mudou muito (graças a deusa).
Diferente da minha mãe e até mesmo irmãos, eu não tive, nem tenho, medo de ir atrás do que acredito.
Sempre achei bonita a palavra audácia e quando preciso me definir, esse é o adjetivo.
– O que te motivou a criar o Afrocentrado? Fala um pouco desse projeto pra gente.
O AFROCENTRADO foi um insight. Necessitava de plataformas que enfatizassem a temática, pessoa e cultura negra no Vale do Paraíba e isso não tinha.
Sempre tive blogs, todos de moda, porém nunca foram pra frente, mesmo tendo público frequentando-o diariamente. Quando o AFRO veio na minha mente, foi tudo pra mim.
Eu precisava falar sobre o que eu era, da onde vim, onde se forma a ancestralidade e ler sobre reinos, personagens, pessoas tão importantes para a luta negra, tanto na época como pós escravidão foi um gás e tanto para que eu desse início à ele.
AFROCENTRADO é colocar o AFRO no centro da pauta, não nas margens. Isso a sociedade já faz.
– Quais suas principais referências?
Caramba, são tantxs. Começando pelas mulheres, duas personagens históricas do reino africano: Nzinga e Aqualtune. Duas mulheres fortíssimas e importantes pra nossa história. Nzinga, afrontosa, tratou os colonos mantendo altura no olhar, sem abaixar a cabeça.
Aqualtune, avó de Zumbi dos Palmares. Pensa que se essa mulher tivesse morrido sem dar luz a Ganga Zumba, nunca no Brasil que teria toda uma história de luta num lugar chamado Quilombo dos Palmares.
Também tem Elza Soares. Preciso?
E minha mãe. Dona Cecília é o significado real de força hoje pra mim. Apesar da gente sempre dar umas cabeçadas, reconheço ela como minha salvadora, fora nunca ter desistido de cuidar, criar e fazer todo o corre pro meu bem estar e saúde. Se eu sempre fui gordinha e bochechuda, quem dava o alimento era ela e minhas tias. Amo todas.
– O que a arte representa na sua vida?
A arte, pra mim, representa realidade social. Isso tem dois polos – primeiro: a vida como ela é; segundo: a forma como a gente, nova geração, (sobre)vive.
– Pra você, como é ser uma mulher negra na nossa sociedade?
É ser linha de frente de guerra toda hora, tanto na mira como na batalha.
A gente não descansa porque não pode descansar. É ter que se reafirmar toda hora pra se destacar, ou tentar rs. Nos chamam de forte todo dia, mas ninguém pergunta como a cabeça das fortes se encontram. Ninguém oferece uma massagem na mão, no ombro ou no pé das fortes, mas também não tem problema. O do it yourself tá ai pra ser feito e nós fazemos por nós e pelxs outrxs que virão após.
– O que você acha que faz teu trabalho reverberar?
A linguagem. A comunicação. Como disse, com o AFRO eu falo sobre nós negros e a nossa cultura. Falar isso de uma forma dinâmica (ou bem Jéssica de ser) é essencial. As coisas não saem quadradas mesmo quando o tema de alguma postagem é um pouco complexo. O feedback que mais gosto de receber é quando vem alguém e fala: “Jazzz, acabei de ler a matéria! Mano que texto massa. Li tudo como se você tivesse falando pra mim. Dá muito pra sentir você ali”. Eu tenho dó da pessoa porque meu deus, minha voz na cabeça? Coitada, porém iti malia que amô.
– Qual o top 5 de mulheres que mais te inspiram?
– Érica Malunguinho, salve as mulheres trans!
– Suyane Ynaya é o que eu quero ser quando eu crescer e quando eu conhecer ela, desmaio!
– Loo Nascimento, nossa Neyzonaney. Coolhunter, empresária, baiana e deusa!
– Qual o recado você quer deixar para as mulheres negras que se inspiram em você?
Garotas, vamos fazer um exercício? Pense em alguma mina preta que você admira. Escreva num papel com grafite (condutor de energia) tudo que você deseja a ela. Coloque seu coração em forma de palavras naquele papel. Quando terminar, pegue a folha, olhe no espelho e diga aquilo pra você!
Somos espelhos. O que enxergamos é aquilo que também somos. Se honrem e se respeitem.
Não se sabotem. Ouçam Sabota.
Esperamos que tenham gostado de mais esse bate-papo incrível e que continuem a acompanhar nossos artigos e entrevistas sobre arte e cultura em todo Vale do Paraíba e região!
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