Segurança para as Commodities, entenda como é feita a proteção pelo mercado financeiro
O agronegócio brasileiro foi um dos destaques durante o forte pico da pandemia, sendo que o setor foi significativo para o PIB – Produto interno Bruto, fechando 2021 com uma alta de 8,36%. Para 2022, o Centro de Estudos Avençados em Economia Aplicada estima uma desaceleração ou até uma queda. O centro se baseia pelos custos de produção elevados pelos impactos da guerra da Ucrânia. Para este cenário, uma das alternativas é a proteção de commodities ou proteção cambial.
O head de renda variável da Maestro Investimentos de São José dos Campos, Matheus Nascimento aponta que há mecanismo de defesa para produtores e investidores para as variações em commodities de grãos e para o setor de carne bovina diante deste clima de incertezas.
Como exemplo, ele cita que algumas commodities como o do café, tem cotação em dólar no mercado financeiro, sofrendo impacto direto da oscilação da moeda. Para os produtores que exportam commodities, a oscilação do dólar afeta diretamente o resultado. Neste caso é importantíssimo, segundo ele, pensar em proteção cambial através de operações no mercado financeiro que permitam maior previsibilidade quanto aos preços.
“Existem possibilidades de travamento de preços no mercado financeiro que proporcionam proteção para a margem do produtor. Por exemplo, considerando que a queda na cotação da commodity prejudique a margem de lucro do produtor, essas operações funcionam como um “seguro”, onde gasta-se um percentual com esse seguro, e caso o preço caia, o produtor tem lucro. Caso o preço suba, “perde-se” o valor pago nesse seguro. Assim como ocorre, quando contratamos um seguro de automóvel, para o caso de um sinistroo segurado recebe o valor do veículo, e caso não ocorra nenhum evento, o segurado não usufrui do valor desembolsado”, exemplificou Matheus.
O especialista da Maestro ressalta que é importante o segurado saber que este tipo de seguro pode ser contratado também para o dólar tanto para cenários de alta quanto de baixa.
“Considerando que o cenário adverso seja o de alta, tanto do preço da commodity quanto do dólar, pode-se montar travas nos preços dos ativos, onde o objetivo é lucrar. Ressalto esse ponto justamente pela volatilidade percebida na cotação do dólar e das commodities em 2022, e que deve seguir ao longo do ano”, sinalizou.
De maneira simplificada, o preço das commodities é definido pela velha e conhecida lei da oferta e da demanda, ou seja, quanto maior a quantidade de uma determinada commodity disponível no mercado, menor o seu preço e vice-versa. Os preços das commodities também variam de estado para estado.
“O fator de variação interna de preços depende muito do tipo de commodity produzida, porém quando falamos de proteção ou hedge, deve -se observar os ciclos de produção onde os preços costumam oscilar de acordo com oferta e demanda de determinado item. Muita oferta tende a fazer os preços caírem, enquanto baixa oferta promove geralmente alta nas cotações. O primeiro passo para o produtor é ele entender em qual ciclo do ano a commodity está e assim, buscar operações no mercado financeiro que permitirão proteção ou potencialização do resultado na safra”, explicou o head de renda variável.
Existem diversas empresas listadas em Bolsa Brasileira onde é possível entender como esse gerenciamento é feito. No setor de proteína animal, por exemplo, os destaques são para JBS e Marfrig, pois além do preço da arroba do boi gordo, o dólar alto fortalece o resultado delas por terem operações relevantes no mercado internacional. O cenário de apreciação do dólar no último ano permitiu que ambas tivessem resultados robustos, sendo que cerca de 60% do resultado positivo foi obtido no exterior.
“Vale ressaltar que o Brasil é dos principais produtores de commodities no mundo, porém, por falta de conhecimento ou de uma boa assessoria de proteção em commodities como desenvolvemos aqui na Maestro Investimentos, o exportador ou produtor utiliza-se pouco do mercado financeiro para operações de proteção”, declarou Matheus.
Reflexos para o Consumidor
Existem outras variáveis que podem impactar o preço das commodities como: taxa de juros, inflação, política dos fabricantes, situação dos fornecedores, custos de armazenamento, clima. Globalmente, temos no momento, a guerra da Ucrânia e no Brasil, temos que contabilizar ano eleitoral.
Do outro lado da ponta temos o consumidor. Quando falamos de preços ao consumidor final, inevitavelmente falamos de repasse de inflação. O custo de produção sobe para as empresas produtoras e consequentemente, esse custo é repassado ao consumidor final.
“O maior benefício para empresas que adotam políticas de hedge através do mercado financeiro é a proteção de suas margens de lucro, mesmo em cenários com inflação mais alta ou não. Para o consumidor final, o maior impacto é sentido através desse repasse da inflação, principalmente para os casos de commodities de alimentação, aquelas que estão na cesta básica. Lembrando que a cesta básica é medida pelo IPCA. Portanto, além da variação do preço das commodities, a inflação é uma questão muito relevante, tanto para as empresas quanto para o consumidor final. A proteção de commodities ou cambial, de certa forma, faz o repasse ao consumidor ter um impacto um pouco menor no bolso dele”, concluiu o especialista da Maestro Investimentos.