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O Sport Club Taubaté e a sociedade taubateana no início do século XX

Foto: ESPORTE CLUBE TAUBATÉ 1917

Confira mais um trabalho do nosso parceiro “Memórias Alvi Azul“. Desta vez ele fala sobre o Sport Club Taubaté e a sociedade no século XX. Confira:

 

A gênese do futebol do Brasil comportou muitas características que também a caracterizaram na Europa. Aqui como lá, o futebol, nos seus primórdios, foi destinado apenas à elite burguesa. No Brasil da Primeira República, período carregado de preconceitos e discussões acerca da identidade nacional no qual, a miscigenação era vista como uma característica ruim do povo brasileiro, a elite dominou no campo e na direção dos times amadores que se formavam. Dessa forma, somente os brasileiros brancos e europeus que fossem ricos, tinham acesso ao esporte que iniciava-se no país.

Inicialmente, em nosso país, a prática do “jogo de bola” era restrita aos brancos ricos, europeus e seus filhos, e sua estrutura era essencialmente burguesa, como foi em toda Europa.

Na cidade de Taubaté, isso não foi diferente. A participação da elite também se fazia presente no campo e na administração das agremiações que se formavam. Isso pode ser observado naquilo que aconteceu no Sport Club Taubaté (como se escrevia na época), no qual a Diretoria foi constituída de pessoas representativas da cidade, não só no meio social, mas até político, Dr. Gastão era o prefeito, Dr. Enéas, membro de umas das mais importantes famílias, cunhado do extraordinário escritor que estava nascendo, José Bento Monteiro Lobato, Antonio Valente da Silva, militante ativo na política, tanto que veio, futuramente, a ser eleito vice-prefeito e governou a cidade em 1925. Não se podia ter, na direção do Clube, senão muita esperança, em virtude do quilate dos que foram eleitos.

A primeira diretoria então foi empossada e constava para presidente Dr. Gastão Aldano Vaz Lobo da Camâra Leal, para secretário Enéas Natividade e para tesoureiro Antonio Valente da Silva.

O caso do Sport Club Taubaté é só um exemplo, pois, pode-se observar certa frequência da elite na direção dos clubes, o que faria com que o futebol passasse a ser difundido na cidade. Assim, no início, a condição social tornava-se então uma prerrogativa necessária para ser aceito na agremiação. A situação financeira de seus administradores e a influência que mantinham junto da sociedade fariam do esporte um sucesso regional e garantiriam a permanência e a vida longa dos times, afastando, desse modo, as crises, como havia ocorrido com as antigas agremiações.

“Homens de boa vontade, políticos, esportistas e artistas, arquitetaram fundar um clube, revivendo o futebol, que apesar de inexistente por estas bandas, estava cada vez mais difundido, através das crianças, que brincavam com esse esporte e que exercia tão grande fascínio em suas vidas” (AZEVEDO, 1988, p. 36)

Talvez, um exemplo do que dissemos acima é a participação de um ilustre filho da cidade. No início do século, por volta de 1914, Taubaté contava com seu representante no meio intelectual. O escritor José Bento Monteiro Lobato, neto do Visconde de Tremembé, também arriscou jogar no primeiro time formado, o Sportivo, “mas como escreveu Oswaldo Barbosa Guisard, o grande escritor levou umas botinadas e acabou desistindo da prática desse violento esporte. Porém continuou um torcedor fanático, desses que Deus no céu e o seu time na terra” (AZEVEDO, 1988, p. 29).

Dessa forma, em Taubaté, o futebol esteve sempre ligado, desde seu início, a nomes e figuras importantes do meio político, social e intelectual. No Sport Club Taubaté, isso se repetiu. Só frequentavam membros com boas condições financeiras e que pertencessem a uma família considerada nobre.

No entanto, a elitização do futebol não afastou ou diminuiu o interesse das camadas mais pobres para a prática desse esporte. A eles cabia buscar outras alternativas, para sanarem a sede de torcer, de vibrar e de, para os jogadores, se sentirem importantes. Assim, essas camadas marginalizadas não só da estrutura social que estavam inseridas, mas também do campo, pois foram postas de escanteio, praticavam as clássicas peladas de todas as tardes, ou então, formavam seus próprios times de várzea. Contudo, a cidade recebeu o futebol com carinho, deu todo apoio possível.

“O progresso havia de vir com o tempo. Esse jogo foi cultivado entre nós, como uma flor rara, de estufa; por isso mesmo, os seus adeptos fizeram todo esforço, todo sacrifício para levá-lo avante; de tal sorte, que poder-se-ia dizer que o davam o próprio sangue para o esporte bretão, que começava a ser brasileiro” (AZEVEDO, 1988, p. 29).

No decorrer nos anos, apesar de ter assumido, no seu início, um caráter elitista, o futebol foi inserido nas camadas mais humildes da sociedade se tornando o esporte do povo. Dessa maneira, de região em região, forneceu uma linguagem de experiência comum a uma população cada vez mais móvel e carente de símbolos nacionais.

O futebol empolgava toda a população taubateana, e as tardes no Velódromo atraíam muitas pessoas, perto do Convento foi improvisada um campo que nada mais é do que o “futebol dos pobres”. Tudo isso começou com a vontade e o entusiasmo de um comerciante açougueiro, Seu Alvarenga, que ficou conhecido como o dono da bola. Ele tinha a bola, o apito e a motivação necessária para fazer os “jogadores” treinar.

“O treino de todas as tardes era como que um desafio e terminada a refrega, Seu Alvarenga, que era mesmo uma aficionado ímpar da sua rapaziada, mandava abrir a caixa de cerveja, as 24 garrafas dos palhões e todos se confraternizavam na “Visão de Ceres”! Não havia geladeiras” (GUISARD,1974, pp. 95-96).

Com isso, pode-se dizer que o futebol começou a se desenvolver com mais intensidade na zona urbana, mas não foi o único espaço de abrangência do futebol na cidade. Os times de fábricas contribuíram muito nesse processo.

Entre os anos de 1904 e 1905, formou-se em Taubaté uma equipe de operários para representar o futebol industrial. O Industrial Foot-Ball Club, fundado pelos esportistas José Gomes Tinoco e Romildo Braz da Silva, entre outros, o time trouxe alegrias ao povo taubateano por alcançar algumas vitórias. Era um grande adversário do Taubaté Foot-Ball Club, em sua primeira fase sendo que se enfrentaram algumas vezes. Dr. Félix Guisard Filho e Alberto Guisard fizeram parte do elenco de jogadores no início do Industrial, sendo que ambos eram filhos do Dr. Félix Guisard o industrial que fundou a C.T.I.

Isso indica que Taubaté, em todos os aspectos estava caminhando a passos largos no desenvolvimento deste esporte, mesmo sendo uma cidade do interior. Esse mesmo processo acontecia nas grandes cidades do Brasil. O aumento da população, o advento das indústrias, particularmente da C.T.I., uma grande indústria de tecidos fundada por Félix Guisard, industrial vindo do Rio de Janeiro em 1891, o fortalecimento do comércio, novas atividades agrícolas, como a rizicultura e, sobretudo o futebol implementavam uma nova dinâmica à sociedade taubateana no início do século XX.

A expansão do futebol em Taubaté, também pode ser percebida por meio da imprensa local. A imprensa em Taubaté nasceu no ano de 1861 e sempre contou com inúmeros jornais, que diariamente noticiavam alguma coisa sobre o futebol, segue o nome de alguns jornais da época: O Taubateénse, O Norte, A Verdade, A Federação, O Jornal da Diocese de Taubaté – O Lábaro e a Gazeta de Taubaté.

A partir do momento que cresceu o interesse da população pelo esporte, as informações sobre a prática e as regras desse desporto eram publicadas em um periódico local e distribuído ao povo.

“Era tanto o entusiasmo despertado que um articulista do Jornal de Taubaté na edição de 16 de março de 1914 publicou sob o pseudônimo de Ivo, uma síntese das regras de Foot-Ball, reproduziu a publicação em folhetos profusamente, distribuindo aos volantes para conhecimento dos esportistas e do povo em geral” (GUISARD, 1974, p. 96).

Com o surgimento do Sport Club Taubaté, em 1914, era necessário um lugar definitivo para que os atletas pudessem melhor treinar de acordo com as regras. Então, baseando-se nas normas do estatuto interno do clube e naquelas que determinavam as medidas dos campos de futebol, a diretoria começou a investir no melhoramento da agremiação.

Em 1914, o presidente e também prefeito Dr. Gastão cedeu a parte baixa da região conhecida como bosque, hoje a Praça Monsenhor Silva Barros, e determinou as obras a serem executadas: a canalização do córrego e a nivelação do campo, além da demarcação do mesmo.

“Foi uma movimentação muito grande durante toda a construção. Com a ajuda da Prefeitura e dos apaixonados pelo futebol, que entraram no mutirão para construir o campo” (GUISARD, 1974, p. 128).

“Enquanto este não ficava pronto, o time do Sport treinava no clube do esportista João Bento de Alvarenga que gentilmente cedera o Estrela Futebol Club, que era um time varzeano de Taubaté, que tinha um campinho bom para a época, ao lado e aos fundos do Orfanato Santa Verônica” (GUISARD, 1974, p. 96).

Nesse momento, de escolhas e definições, foi definida a cor do uniforme dos jogadores, que permaneceu a mesma dos times anteriores desde o tempo do Club Sportivo Taubateense, ou seja, o azul e branco. Cores que permanecem até hoje.

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