Filho de ex-presidente aponta em seu novo livro irregularidades do pai na CBB
Foto: Arquivo pessoal
Rafael Hughes, antes conhecido como Rafael Nunes, é filho do ex-presidente da Federação Gaúcha e também da Confederação Brasileira de Basketball (2009 a 2017). Ele lançou um livro, até então escondido, que pode abalar as estruturas da família Nunes e do esporte nacional.
Com um título sugestivo de “Do fundo da quadra – As aventuras de um playboy inconsequente”, Hughes conta um pouco dos detalhes dos anos de gestão do pai tanto no Rio Grande do Sul, quando presidiu a Federação Gaúcha na década de 90, quanto entidade máxima do basquete brasileiro. A riqueza de detalhes, embora com nenhuma informação documentada, é relevante e dá a dimensão das coisas.
Leia alguns trechos destacados:
“Nós, eu e a minha família, entramos para a história. E não existe ninguém que tenha trabalhado com basquete entre os anos de 1995 a 2015 que não nos conheça. Quem sou eu? Eu sou o filho mais novo do ex-presidente da CBB – a Confederação Brasileira de Basquetebol. E eu teria sido apenas mais um filho de algum ex-presidente caso meu pai não tivesse ficado no poder por vinte anos. E eu e meu irmão não tivéssemos seguido carreira dentro deste mundo. E eu não era apenas mais um filho de presidente. Eu era um playboy. Um playboy inconsequente. Um garoto mimado e protegido correndo pelo meio dos adultos no pátio da nossa casa, que eram as quadras de basquete do país. E foi de lá, do fundo da quadra, que eu acompanhei de forma direta os jogos, os jogadores, os clubes, a política, os bastidores, e toda maracutaia que rolava (e rola) nesse meio do esporte. E depois de tanto tempo e tantas estórias, não tinha como deixar passar em branco. Tomara que quando as pessoas começarem a ler este livro eu esteja bem longe, de preferência morando no Alaska. Porque certamente isso aqui vai dar processo.”
“No caso do basquete cada voto pra você ser presidente da CBB custa em média US$ 100 mil (sim, o valor é esse mesmo, em dólar, e não foi um erro de digitação). Isso era o preço base quando meu pai assumiu. Hoje já deve estar bem mais caro. Então sendo 26 Estados e mais o Distrito Federal pra ganhar as eleições pela maioria dos votos o meu pai precisava de US$ 1,4mi. E é óbvio que a gente não tinha esse dinheiro”.
“Na primeira reunião com os clubes depois de ter ganho a eleição na Federação Gaúcha meu pai deixou bem claro: ‘O cargo da FGB não é remunerado, porém ninguém trabalha de graça. Vou trabalhar pra vocês, mas vou cobrar uma taxa de 20% sobre os custos básicos porque eu preciso sobreviver’. E naquela noite todos os clubes concordaram com as exigências do meu pai”
“Manipulação de resultados era o que mais rolava na gestão Grego (Nota do Editor: antecessor de Nunes e de quem Nunes, aliás, foi vice-presidente). Por quê? Porque ele devia favores a muita gente, pois foi preciso que muita gente o apoiasse para que ele derrubasse o antigo presidente Renato Brito Cunha. E na boa, irmão, o fato do Grego dever favores para os clubes e federações do país é o de menos. Você é muito ingênuo de saber que manipulação de jogos nada mais é que do que uma forma de se fazer muita grana no esquema de apostas ilegais”.
Outra ostentação eram as roupas da seleção. Eu adorava quando meu pai me levava pro Rio de Janeiro nos feriados porque a gente ia na CBB aos sábados e não tinha ninguém. E enquanto ele ficava no andar de cima, eu tinha acesso liberado ao almoxarifado no andar de baixo. Imagina um pirralho de 17 anos que joga basquete em um apartamento inteiro com roupas e material esportivo da seleção. Eu era como uma criança correndo livre no meio dos brinquedos da Disney”.
“O meu pai não era um cara mau. Ele só era enrolado. Enrolado pra caral… ele tinha feito um curso técnico de contabilidade e pensava ter ganho o prêmio de administrador do ano da revista Forbes. Ele nunca pegou mais do que o combinado, mas as pessoas não entendiam o quanto é foda você trabalhar com patrocinador”.
“No início de 1998 eu conversei com meu pai que tinha o sonho de ver o filho cartola do basquete. E a partir daí eu passei a trabalhar de delegado dos jogos da Federação Gaúcha e de assessor do departamento técnico da CBB. Eu participava dos eventos internacionais e tinha acesso livre a todas as competições realizadas dentro do território nacional. Foi aí que eu peguei minha prancha e caí surfando no mundo do basquete”.
Lembrando que depois que seu segundo mandato terminou Nunes saiu da CBB, foi processado pela nova gestão da entidade e acabou banido do basquete.
Ouvido pela reportagem do UOL, o ex-presidente da CBB de 1997 a 2009) Gerasime Nicolas Bozikis se manifestou: “Sinceramente falando não dá pra responder a esse rapaz, a esse livro, porque é uma tremenda insanidade. Não dá nem pra falar em mentira porque é mais do que isso. Eu fiz basquete em todos os Estados. Não importa a qualidade, mas minha gestão tinha o slogan ‘A bola quica em todos os Estados’. Nunca houve compromisso com nada diferente do melhor da modalidade. Errei, como todos os gestores erram, mas ir além disso é uma insanidade total. Compra de votos? Favorecimento de resultados? Que isso! Me chamavam de ditador, de rígido, dessas coisas, porque não aceitava nada ilícito. É uma total insanidade”. Carlos Nunes respondeu hoje (domingo) pela manhã: “Não tenho conhecimento do teor da obra. Não sabia nem que tinha escrito. Meu filho mora no exterior e nosso contato é diminuto. Estou surpreso com esta atitude descabida e recheada de inverdades. Agora que você coloca isso vou correr atrás e tomar as devidas providências