Economia

Brasil deve crescer 5% neste ano mas pode ter desaceleração forte em 2022, diz OCDE

A expansão do PIB brasileiro deverá ficar pouco abaixo da média de crescimento da economia mundial neste ano, projetada em 5,6%, e poderá ser bem inferior à média global em 2022, estimada em 4,5%, de acordo com a organização.

A economia brasileira também deverá crescer menos em 2022 do que a de vários países da América Latina, como a Argentina (2,5%), Chile (2%), Colômbia (5,5%), Costa Rica (3,9%) e México (3,3%).

Em seu estudo sobre perspectivas para a economia mundial, lançado nesta quarta e publicado semestralmente, a OCDE, com sede em Paris, afirma que a aceleração da campanha de vacinação no Brasil contribuiu para a retomada do crescimento neste ano.

A atividade econômica também foi sustentada pelos programas sociais, como o auxílio emergencial, encerrado em outubro, que contribuíram para manter o consumo, e pelo investimento privado. Além disso, o aumento dos preços das commodities durou mais do que o esperado, impulsionando as exportações.

Por essas razões, a OCDE revisou para cima neste último estudo sua projeção de crescimento do PIB brasileiro neste ano, que era de 3,7% no relatório divulgado em maio, para 5% atualmente.
“Com o levantamento das restrições às atividades e o retorno à normalidade, a demanda interna acumulada pôde recuperar o atraso dos últimos meses”, disse à BBC News Brasil Priscilla Fialho, economista especializada no Brasil do departamento de economia da OCDE.
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Ao mesmo tempo, a OCDE alerta que o ritmo da recuperação da economia brasileira está desacelerando. A organização revisou para baixo sua estimativa de expansão do PIB do Brasil em 2022, que era de 2,5% e passou para apenas 1,4%, segundo o relatório divulgado nesta quarta.

“A revisão das projeções do PIB brasileiro para 2022 explica-se sobretudo pela desaceleração no final de 2021, que deverá persistir até meados do próximo ano, enquanto os gargalos nas cadeias de suprimentos da indústria se mantiverem, a inflação permanecer elevada e o Banco Central continuar o aperto monetário, com juros mais altos, como resposta à elevação dos preços”, afirma Fialho.

Segundo ela, a recuperação da economia brasileira deverá voltar a acelerar progressivamente no segundo semestre de 2022, à medida que os gargalos na cadeia de suprimentos global desaparecerem. Também se prevê a recuperação do mercado de trabalho e a queda da inflação, decorrente das taxas de juros mais altas, que devem contribuir para melhorar o rendimento das famílias e sustentar a expansão do consumo interno.

Mas a OCDE ressalta que há “riscos importantes” de baixa para a previsão de 2022. Isso porque a crise hídrica pode durar mais tempo, o que leva ao aumento dos preços da energia, “resultando em inflação persistente e perspectivas de crescimento menores.”

As incertezas políticas e o aumento do risco fiscal podem “minar a credibilidade” das regras fiscais, e resultar em inflação persistente e perspectivas de crescimento menor da economia brasileira no próximo ano, alerta o estudo da OCDE.

“Há muitas incertezas em relação a essas projeções. Não estamos, por exemplo, a salvo de uma nova crise sanitária e de novas restrições de mobilidade, como já se observa na Europa”, afirma a economista da OCDE.

OCDE prevê que inflação no Brasil será de 7,8% em 2021; mercado financeiro estima 10,15%
Um crescimento mais fraco do que o esperado na China – estimado em 8,1% neste ano e 5,1% em 2022 e 2023 – também pode prejudicar o desempenho das exportações brasileiras.

Fialho afirma que a maioria dos fatores que explicam a inflação são temporais, como o aumento dos preços da energia elétrica por conta da crise hídrica e a falta de suprimentos que elevam os preços dos bens industriais.

A OCDE prevê que a taxa de inflação no Brasil será de 7,8% em 2021, estimativa menor do que a dos mercados, que é de 10,15%, segundo a última pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central. Em 2022, a OCDE prevê que a inflação no Brasil será de 5,1%.

A organização afirma que as reformas fiscais também podem desempenhar um papel importante para conter as pressões inflacionárias. “Reforçar as regras fiscais aumentaria a confiança do mercado sobre o compromisso do governo de manter as finanças sustentáveis”, diz o estudo.

Fialho ressalta que as incertezas em relação à política fiscal aumentam a percepção de risco nos mercados, o que afeta o câmbio e encarece as importações, o que também contribui para a inflação no Brasil.

“Por outro lado, as mudanças que afetem o teto de gastos e o quadro fiscal no Brasil podem também criar incertezas quanto à gestão das finanças públicas a longo prazo. Isso pode influenciar as expectativas de inflação, fazendo com que ela persista mais do que o esperado”, diz a economista.
“Por isso, é importante haver alguma clareza sobre os planos fiscais a curto e longo prazos. É preciso reduzir as incertezas e aumentar a credibilidade das regras fiscais”, completa.

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